O Brasil foi colonizado no século XV, durante a era mercantilista da Europa medieval, período em que o comércio, a busca por metais nobres, bem como as missões cristãs motivaram aventuras marítimas intercontinentais. As potências mercantis europeias nessa época eram Portugal e Espanha, recentes nações que buscavam consolidar novas rotas comerciais para o oriente, como China e Índia, e saíram na frente na conquista do “Novo Mundo”.
“Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender os olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos”, assim escreveu Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, Dom Manuel I, nesta carta de 1º de maio de 1.500, que seria o primeiro documento escrito da história do Brasil. Enquanto os espanhóis encontravam prata no Peru já em 1545, no Brasil os metais preciosos só foram descobertos no final do século XVI. E, diferente do que se pensa, não foi em Minas Gerais. O ouro foi encontrado em São Paulo ou na antiga capitania de São Vicente.
Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714 – 1777), paulista, era sobrinho do bandeirante Fernão Dias e vinha de família nobre, abastada e influente. Exerceu cargos administrativos de notoriedade. Seu destaque e atualidade se deve ao papel que desempenhou de cronista das bandeiras. Fez alguns importantes apontamentos sobre a Capitania de São Vicente, incluindo a atividade aurífera em Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos e ganhou fama de genealogista por percorrer os arquivos e catalogar parte dessa documentação. Infelizmente, há um vácuo muito grande de registros nesse período, os bandeirantes, muitos iletrados, pouco ou nada anotavam durante suas expedições: “Foi assim, continuando Afonso Sardinha, até que tendo conquistado as nações mais bárbaras que dominavam o sertão na circunferência das serras mais vizinhas ao sítio e povoação de São Paulo, aplicou seu talento e forças aos exames e descobrimentos de minerais [...] Com elas conseguiu o descobrimento das minas de ouro de lavagem na Serra de Jaguamimbaba (Guarulhos), de Jaraguá (São Paulo), de Vuturuna (Santana de Parnaíba) e de Hibiracoiaba (Sorocaba), na qual se descobriu também prata e ferro, de sorte que no ano de 1597 estavam estas minas já descobertas”. (Taques, 1980, p. 94-95).
Segundo Caetano Juliani, a lavra de ouro em Guarulhos se constituiu na desembocadura dos canais que traziam a água das barragens pela abertura de uma vala de até dezenas de metros de comprimento, ali se isolava uma determinada área a ser lavrada, denominada de taboleiro.
Foram encontrados sete aquedutos e dezenas de canais na área da mineração de ouro em Guarulhos, situados nos bairros do Tanque Grande, Capelinha, Morro Grande, Água Azul e das Lavras. A construção de aquedutos foi uma das primeiras realizações da engenharia da antiguidade e tinha o objetivo de transportar água de um local para outro, geralmente para irrigar o solo tornando-o mais produtivo para a atividade agrícola. Em Guarulhos, essa estrutura era feita com pedras e conduzia as águas até as lavras de ouro. O mais simbólico aqueduto é o do Tanque Grande que media aproximadamente 9 km e levava água até o Ribeirão das Lavras.
Houve um estudo interdisciplinar abrangente que englobou desde acadêmicos até a sociedade civil a fim de mapear e catalogar os vestígios geológicos, arqueológicos, históricos e culturais da região aurífera de Guarulhos. O estudo surgiu a partir do Decreto nº 25.491 de 9 de junho de 2008 do Município de Guarulhos, pelo qual o Executivo instituiu um grupo de trabalho visando a implantação e gestão da Unidade de Conservação Parque Natural Municipal da Cultura Negra Sítio da Candinha, que, infelizmente, até hoje não foi concretizado. Com uma extensão total de 16.900 de hectares, o Geoparque abrange integralmente os bairros do Cabuçu de Cima, Tanque Grande, Capelinha, Água Azul, Mato das Cobras e Morro Grande e, parcialmente, os bairros do Cabuçu, Invernada, Bananal, Fortaleza, São João, das Lavras, Bonsucesso e Sadokim.
Na virada do século XIX para o XX, os grandes centros urbanos brasileiros passaram por uma quase revolução na área da construção civil, a Taipa de Pilão era rapidamente substituída pela alvenaria, mudança que simbolizava a transição do Brasil colonial escravagista arcaico para o republicano imigrante moderno. Os prefeitos de São Paulo e Rio de Janeiro, se destacavam com os projetos entusiastas dos arquitetos Ramos de Azevedo e Pereira Passos que se inspiravam nas capitais europeias e Estados Unidos, como Paris, Londres e Chicago. O espaço urbano era então remodelado com certa pressa: ruas foram alargadas, áreas públicas; como jardins, praças, bibliotecas e galerias foram construídas em poucas décadas.
Guarulhos teve um projeto de modernização muito mais tímido, a exemplo do alargamento da Rua Dom Pedro II e a destruição da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, como categorizou Carlos José, seguindo por um “modelo mais suburbano de desenvolvimento”. No entanto, a cidade teve destaque no fornecimento de tijolos, nessa época, surgiram olarias espalhadas praticamente por todo município que se beneficiaram da matéria-prima disponível em abundância. Guarulhos também recebera levas de imigrantes europeus que trouxeram certa experiência com essa atividade e investiram no ramo. Outro ponto, foi o aumento expressivo da população que era atraída pela oferta de mão-de-obra. A produção de tijolo guarulhense contribuiu internamente para o surgimento de novos loteamentos, bairros e foi o pontapé para o início da atividade industrial na cidade. Externamente foi fundamental para a nova configuração arquitetônica da cidade de São Paulo, servindo para edificações como o Museu do Ipiranga, Pinacoteca, Teatro Municipal e etc.