Guarulhos tinha forte característica tropeira e servia como ponto de pousos e travessias, sua principal rota de passagem era o caminho da Estrada Geral (atual Rua Dom Pedro II - Monteiro Lobato - Guarulhos-Nazaré), que ligava São Paulo ao aldeamento de Nossa Senhora da Conceição e a Vila de Bonsucesso e também rotas bandeirantes mais distantes: Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
Há uma complexa questão identitária que precisamos discutir e refletir durante nosso passeio, a visão de que Guarulhos é uma cidade dormitório, não tem história, o slogan da “cidade progresso” e que é um apêndice de São Paulo. A produção historiográfica mais tradicional da cidade, de certo modo, reafirmou esses estigmas. Adolfo Noronha, por exemplo, enfatizou que o que motivou a precoce colonização da cidade foi que: “o aldeamento (do centro) seria uma necessidade de defender a Vila de São Paulo, por causa da ameaça de ataques aos grupos indígenas hostis, os Tamoios".
A historiografia mais recente vem buscando entender os efeitos dessa visão tão enraizada no nosso imaginário e compreender as especificidades históricas de Guarulhos. Carlos José, não negou que a fundação e a constituição de Guarulhos teve relação com São Paulo, todavia, ele questiona essa geração que conta a história da cidade a partir de um prisma político, econômico e dependente da capital paulista, ele afirma que: “impôs-se um discurso único a partir da construção histórica municipal para exaltar os que estiveram à frente de sua administração”. Carlos José e outros fazem parte de uma geração de teóricos, inspirados por Marc Bloch e Lucien Febvre, que fazem uma crítica política da história tradicional, como sendo apenas a história das elites e do poder, que desconsiderava a maioria da população.
Houve dois fortes motivos que impulsionaram as missões bandeirantes pelo país 1) a possibilidade de descoberta do ouro 2) o aprisionamento e escravidão de índios, ambos relacionados a possibilidade de enriquecimento pessoal desses homens. A aldeia era, segundo Benedito Prezia “um um espaço de liberdade contra a prepotência dos colonos, como ocorreu no aldeamento de Nossa Senhora da Conceição dos Maromomis, mais tarde chamados de Guarulhos”.
Há registros, como o documento da Câmara dos Vereadores de São Paulo, 1608, de que os jesuítas de São Paulo em 1604 pediram ao Superior Geral e ao capitão-mor de São Vicente terras e autorização para aldear os Maromomis, sendo-lhe concedida uma gleba à margem direita do Tietê. Esse aldeamento deveria ser construído na parte alta da área entre os anos de 1606 e 1607 e a capela (atual Matriz), segundo orientações da igreja dedicada à Nossa Senhora da Conceição.
Entretanto, o aldeamento não interrompeu a escravidão dos Maromomis em Guarulhos, segundo Adolfo Noronha.
John Manuel Monteiro colocou como a questão sobre a mão de obra indígena é problemática. De um lado, os jesuítas disputavam a autoridade sobre a organização do trabalho indigena, Padre Anchieta, por exemplo, defendeu a importância do trabalho para a conversão do indígena ao cristianismo, que sob a tutela da aldeia, era recrutado apenas periodicamente, de outro, os colonos desejavam manter para si o controle direto dessa administração para maior exploração desse trabalho, fazendo uso frequente das Câmaras Municipais no intuito de driblar as leis protetivas.
A aldeia Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos se localizava aproximadamente, segundo alguns registros, no antigo Marco Zero situado na Praça Tereza Cristina.
Dizem que D. Pedro II pernoitou próximo a Matriz (pouco provável, a tese mais aceita é que ele passou a noite na Penha). D. Pedro II e a Princesa Isabel dormiram num casarão mal-assombrado e assistiram à missa na Igreja Matriz – por isso o brasão do Império no alto da igreja e os nomes da Rua Teresa Cristina e D. Pedro II.
Segundo levantamento do historiador Elton Soares, o córrego lava-pés (atual praça Capitão Alberto Mendes Jr.) era um ponto de tropeiros onde os fiéis lavavam seus pés. Registros orais relatam que muitas pessoas vinham das festividades religiosas caminhando descalças e lavavam os pés ali.
a) Cine República – primeira sala de cinema (1922) – 600 lugares, segundo proprietário: Antonio Pratici (pref. 1952-53) – altura da praça Conselheiro Crispiniano. Fechou em 1973;
b) Cine São Francisco (1965) – Praça Teresa Cristina, 49. Fechou em 1980;
c) Cine Star (1970), no atual prédio da Câmara dos Vereadores, na parte superior funcionava o restaurante Terraço Roma. Fechou no final dos anos 80.
São três igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em São Paulo, todas elas foram construídas por escravos e datam do período colonial. A primeira, indiscutivelmente, seria a do Largo Paissandu. Ficamos na dúvida, se a segunda seria a de Guarulhos ou a da Penha. Ambas são da mesma época.
A destruição da Igreja foi um símbolo na cidade de uma política nacional de branqueamento idealizada desde o final no século XIX e início do XX, intelectuais como Sílvio Romero e Nina Rodrigues se apoiaram no eugenismo científico europeu, que inferiorizou os povos não-brancos, classificado-os biologicamente como imorais e violentos, Arthur de Gobineau recomendou evitar a "mistura de raças", pois o mestiço tendia a ser o mais "degenerado". O Brasil, segundo a antropóloga Lilia Schwarcz, após acaloradas discussões, foi na contramão dos europeus e apoiou a mestiçagem como o melhor caminho de se chegar ao branqueamento, na crença de que a "raça" branca, por ser mais “evoluída”, iria prevalecer e civilizar a sociedade brasileira. Afinal, somente após a "superação" do legado preto e escravagista, a nação teria condições de se equivaler a uma potência europeia. No quesito cultural, houve muita repressão às expressões culturais dos negros e sua prática era considerada criminosa. Todavia, a partir da década de 30, com a reestruturação da política cultural varguista e o destaque dado aos folcloristas e artistas modernistas em seu governo, como Mário de Andrade, Gustavo Capanema, a cultura mestiça iniciou um processo de mudança de percepção (que ainda está longe de terminar): o samba, a umbanda, a capoeira começavam a se tornar importantes representações da identidade brasileira.
Antigamente, a Rua Dom Pedro II era composta basicamente por casas. Após os anos 20, essas moradias começaram a ceder espaço para os pontos comerciais, remodelando a paisagem central que ganhava traços cada vez mais urbanos. A Construção da Estação Guarulhos do Ramal “Tramway da Cantareira”, inaugurada em 1915, e a abertura da atual Rua Cerqueira César (antiga Rua da Estação) para ligar o centro à Estação, impactou significativamente nessa mudança de cenário.
Carlos José defendeu que a nossa modernização foi no modelo suburbano, de modo que o centro guarulhense não atingiu o padrão das grandes capitais, a exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro, que geriram projetos inspirados em Chicago e nas bulevares francesas, que caracteristicamente possuem ruas mais largas e planificadas, com praças, chafarizes, jardins públicos e altamente preparadas para receber a indústria automotiva.
Adolfo Noronha, Gasparino Romão e João Ranali atribuíram a emancipação de Guarulhos, que passava do status de “Freguesia” de São Paulo para uma “Vila” independente aos esforços do Padre João Vicente Valladão e João Álvares de Siqueira Bueno. Segundo o historiador Adilson Freire: “esses dois personagens, imbuídos de um ideal emancipacionista questionável foram responsáveis por conduzir Guarulhos a superação de um estado de “desinteresse” e atraso”.
A imensidão do solo guarulhense e o lucro obtido pelas fazendas, em especial Bonsucesso e Tapera Grande, foram reivindicados por esses homens, que acusavam a gestão paulista de ser ineficiente e priorizar seus próprios interesses.
No fim, a emancipação política de Guarulhos favoreceu esses latifundiários, que obtiveram com a mudança de status, maior controle sobre as terras, João Bueno teve seu prestígio político aumentado, ganhou a concessão da Câmara de Guarulhos para a construção de uma linha de bonde e foi eleito vereador diversas vezes.
Antes de completar uma década, a nova Vila perdeu duas dessas incorporações: as Freguesias da Penha de França e Juqueri. Ambas foram desmembradas de Guarulhos: a Penha foi reintegrada à capital pela Lei Provincial n.º 71, de 3 de maio de 1886; e o Juqueri elevado a município pela Lei Provincial n.º 66, de 27 de março de 1889.
Durante o período colonial e parte do imperial, personagens da elite eram sepultados dentro ou próximos às igrejas, já os escravos e pobres, mais distantes.
1. Casa José Maurício
2. Catedral Nossa Senhora da Conceição
3. Rua Felício Marcondes
4. Rua João Gonçalves
5. Ônibus antigos