Bonsucesso

História de um dos bairros mais importantes de Guarulhos

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Segundo John Manuel Monteiro, a riqueza rural no Brasil Colonial era medida em terras e índios. No auge das expedições de apresamento, ocorridas entre 1628 e 1641, os aldeamentos constituíam uma reserva suplementar da vida colonial. Os índios que conseguiram escapar das garras dos colonos, como os do aldeamento de São Miguel, reclamavam que certos colonos “estavam roçando em suas terras e botando-os fora delas, causando assim, grandes danos com suas criações de gado”. A Câmara Municipal a partir de 1660 “resolveu” o problema expropriando as terras indígenas e cedendo-às aos proprietários particulares. Foram doados numerosos lotes em forma de aforamentos, processo que levou a população de Guarulhos ao declínio, em especial a indígena. Entretanto, pode-se dizer que com a consolidação da sesmaria de Geraldo Correia Sardinha, que alegava ter descoberto jazidas auríferas ao longo do Rio Baquirivu, a vila rural de Bonsucesso abriu precedente para a ocupação branca.

Rio Baquirivu-Guaçu, 2021. Fonte: Gustavo Herthel

John Manuel Monteiro encontrou documentos sobre o bairro de São Miguel, que surgiu após a espoliação das terras dos índios e incluía basicamente as pequenas propriedades ao redor da capela de Bonsucesso, a qual pertencia a fazenda de Francisco Cubas Preto, genro do sertanista Manuel Preto, que havia herdado uma posse considerável de índios do seu sogro, além de agregar muitos outros através das atividades de apresamento, totalizando cerca de duzentos índios quando da sua morte em 1773. Cubas vinculou grande parte da sua riqueza e de seus índios à capela de Bonsucesso, no seu testamento, instituindo suas quatro filhas solteiras como administradoras da capela. Impôs-se ainda a condição de celibato, qualquer filha que casasse perderia o direito à administração e, portanto, teria de mudar-se do local. Porém em poucos anos a família Cubas sofreria um declínio vertiginoso de riqueza e prestígio, e a capela, em meados do século XVIII, achava-se em um lamentável estado de decadência.

Vila Rural de Bonsucesso. Fonte: Arquivo Histórico Municipal

Ainda no século XVII os cultivadores de trigo e criadores de gado mais abastados tiveram que dividir o bairro de São Miguel com um número sempre crescente de lavradores pobres, os quais buscavam tirar seu sustento das terras indígenas concedidas pela Câmara Municipal. Em 1678, a Câmara mediu os limites do aldeamento de São Miguel, assim como em Conceição (na região central) e começou a distribuir as terras entre os requerentes, cobrando um foro anual de 640 mil réis.

Festa da Carpição próximo a Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso, 1978. Fonte: Arquivo Histórico Municipal

Vista aérea do Trevo de Bonsucesso, 1980. Fonte: Flávio Barroso Braga

De acordo com o historiador Benedito Prezia, não há documento com registro exato de onde era o aldeamento. Os registros achados seriam um mapa da capitania de São Vicente do final do século XVI, possível data da descoberta de ouro. O Aldeamento de Bonsucesso possivelmente incluiu também a atual região dos Pimentas, Itaim e São Miguel Paulista.

Sincretismo religioso, Sala dos Milagres da Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, 2021. Fonte Gustavo Herthel

Sala dos Milagres, milagre atribuído a Nossa Senhora de Bonsucesso, 2021. Fonte: Gustavo Herthel

Podemos definir o sincretismo religioso como a mistura de várias matrizes religiosas, aqui no Brasil, até a instauração da República, o catolicismo era a religião oficial e o que não era “cristão” era reprimido, no entanto, é óbvio perceber que o catolicismo brasileiro sofreu inevitáveis influências das religiões de origem africana e indígena. Em Bonsucesso, quando falamos da terra como elemento sagrado, quando visitamos a sala dos milagres da Igreja e as festividades, observamos o quanto ela é dotada de sincretismo. Segundo Ronaldo Vainfas, professor da UFF-RJ, o sincretismo religioso permaneceu em todo período colonial. “Aqui, o catolicismo fracassou culturalmente pela mistura variada de religiões, aliás, o catolicismo português trazido para cá já não era exatamente o de Roma.”

Festa da Carpição. Fonte: Arquivo Histórico Municipal

Terra Sagrada em frente a Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso, 2019. Fonte: Guarulhos Hoje

Uma análise interessante é sobre como foi instituída a política de asfaltamento nessa área sagrada de Bonsucesso em 1970. O plano de pavimentação impediria o ato da carpição da terra, usada para curar diversas enfermidades e destruiria a casa dos romeiros. A medida gerou resistência e revolta e, segundo Carlos José, professor da Universidade Estadual de Santa Cruz - BA, que fez a conexão de toda essa dinâmica em Bonsucesso com uma das teorias do filósofo italiano Antônio Gramsci “o povo não aceita passivamente tudo que vem da classe hegemônica, de modo que negociam e influenciam na formação identitária dos espaços”, E, no fim, a cultura popular foi resiliente, o asfaltamento não determinou o fim do rito da carpição e o conflito acabou com a colocação de vasos que possibilita acesso às terras.

Imagem interna do Cemitério do Bonsucesso em Guarulhos, 2012. Fonte: AAPAH/Marcelle

Imagem interna do Cemitério do Bonsucesso em Guarulhos, 2012. Fonte: AAPAH/Marcelle

Obras de drenagem do futuro Shopping Bonsucesso, 1985. Fonte: Donizeti A. de Deos

Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso, 1929. Fonte: Arquivo Histórico Municipal

Casario da vila rural de Bonsucesso , 1970. Fonte: Arquivo Histórico Municipal

Rodovia Presidente Dutra, 1957. Fonte: Arquivo Histórico Municipal

Altar dedicado a Nossa Senhora do Bonsucesso, 2021. Fonte: Gustavo Herthel

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